Nos últimos anos, Hollywood mergulhou de vez na febre dos live-actions — com resultados para todos os gostos. Enquanto alguns projetos prometeram, mas acabaram tropeçando — como Branca de Neve, lançada em março de 2025 e considerada uma das adaptações live-action menos bem-sucedidas da Disney, ou A Pequena Sereia, que dividiu opiniões com suas escolhas criativas —, outros mostraram que ainda é possível acertar em cheio. Lilo & Stitch foi um desses acertos, preservando a alma do original e conquistando uma nova geração.
Agora, Como Treinar o Seu Dragão (2025) se junta a esse seleto grupo que realmente merece aplausos.
Em meio a tantos remakes que parecem ter sido feitos às pressas, a nova adaptação da clássica animação da DreamWorks se destaca como um raro exemplo de quando o respeito ao material de origem, combinado com tecnologia de ponta e sensibilidade, realmente funciona. Não tenta reinventar a história — convida a revisitar, com os olhos de hoje, algo que nos emocionou profundamente há 15 anos.
Por que esse live-action deu tão certo?

Muita gente diz que o segredo do sucesso foi “copiar” a animação original quase cena a cena. E, de fato, a fidelidade ao material de 2010 é impressionante. Mas o que poderia parecer preguiça se transforma em acerto emocional. A sensação é de estar revivendo uma memória — não só da história, mas de uma fase da vida.
Aquela primeira troca de olhar entre Soluço e Banguela. O voo sob a aurora. O salto final em meio à batalha. Tudo está lá. Só que agora, com atores reais, cenários nórdicos de tirar o fôlego e um cuidado técnico que faz tudo parecer possível. O filme entrega uma experiência de reencontro, não de repetição.
Um show visual que não esquece da emoção

A produção caprichou: os efeitos dos dragões são dignos de superproduções como Avatar, as cenas de voo são empolgantes, e os cenários — com florestas reais, praias gélidas e vilarejos vikings — evocam uma estética quase mística.
O elenco também convence. A escolha dos atores é tão fiel que parece que os personagens animados saltaram da tela. A única ressalva: Soluço talvez seja bonito demais para convencer como o garoto deslocado e rejeitado do início da história. Mas isso é detalhe.
Nem tudo voa alto: o que não funcionou tão bem

Apesar de entregar emoção e espetáculo, o filme também tem suas limitações. A fidelidade extrema à animação traz riscos: algumas expressões e gestos funcionam bem no mundo animado, mas soam artificiais em atores de carne e osso. Em certos momentos, parece mais um cosplay bem-feito do que uma atuação viva.
Além disso, algumas piadas do original foram cortadas — e o filme ganha 30 minutos extras com cenas novas, especialmente entre Soluço, seu pai e Astrid. A ideia é boa: aprofundar as emoções e reforçar os vínculos. Mas nem sempre funciona. Há trechos que parecem alongados sem necessidade, e o carisma de Banguela — com seus trejeitos cômicos — ficou um pouco abafado.
O que essa história ainda tem a dizer hoje
O enredo básico continua o mesmo: em um povoado onde matar dragões é símbolo de honra, um jovem viking escolhe fazer o oposto — entender e proteger essas criaturas. Em tempos atuais, o arco de Soluço soa ainda mais relevante: ele é um personagem que rompe com o machismo e a cultura da violência herdada do pai, em busca de um caminho próprio.
A jornada dele é menos sobre derrotar um inimigo e mais sobre aceitar quem se é, mesmo que isso desagrade quem sempre quisemos impressionar. Essa leitura, mais madura, faz com que o filme fale com um público que cresceu — e agora revê a história com outros olhos.
Feridos que voam juntos
Um dos detalhes mais bonitos do filme é como ele trata o vínculo entre Soluço e Banguela. Ambos são feridos — o garoto manca, o dragão perdeu parte da cauda. Separados, são vulneráveis. Juntos, criam uma nova forma de existir, de superar as limitações. É uma metáfora tocante sobre empatia, resiliência e a força das parcerias improváveis.
Essa relação, mais do que o conflito entre humanos e dragões, é o que dá alma ao filme. E é o que faz a gente sair do cinema com o coração cheio.
Vale assistir de novo?
Como Treinar o Seu Dragão (2025) não tenta reinventar a roda. Ele aposta na segurança de uma história já consagrada — e entrega exatamente o que se espera, com algumas melhorias visuais e um leve amadurecimento no tom.
Num cenário onde remakes costumam desapontar, esse filme se destaca por um motivo simples: não trai o original e respeita o público. É um reencontro bem-feito com uma fábula que continua atual — e, melhor ainda, disponível para ser revivida onde você quiser.
O live-action de Como Treinar o Seu Dragão já está disponível no app Freecine. Uma forma prática de se emocionar (ou se reconectar) com essa história inesquecível.